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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Uma reflexão sobre minha identidade étnica

Dia 18 de junho é o Dia do Imigrante Japonês. Nesse último que passou comemoramos os 110 anos da chegada dos primeiros imigrantes. Eu li muitos posts de amigos relatando um pouco da vivência deles ou de familiares. Me emocionei muito lendo alguns e me peguei pensando sobre todos os sentimentos agridoces que essa ancestralidade me trouxe nessas quase 3 décadas de vida.

Eu sou haafu (expressão japonesa para "metade", significando mestiço). Olhando pra mim é óbvio que eu não sou branca, mas ainda assim as pessoas enxergam só a cor da pele e desconsideram os fenótipos mais óbvios: eu tenho olhos puxados, meu cabelo é mais preto que preto, meu rosto é redondo, meu nariz é achatado, minha estatura é baixa.

O processo de (re?)descobrimento da minha identidade começou recentemente, graças a um grupo de mulheres incríveis e inspiradoras. Graças a esse grupo eu comecei a enxergar microagressões que eu sofro quase que diariamente desde que me entendo por gente. Antes eu via como preconceito sem graça e não como o que realmente é.

É um tanto bizarro olhar em retrospecto e lembrar de quantas vezes eu fui discriminada por ter uma aparência diferente, a quantas perguntas esdrúxulas eu tive que responder por causa da minha ascendência, quantas piadas repetidas eu ri de nervoso por simples cansaço e preguiça de responder. A que mais me irrita até hoje, de longe, é quando perguntam sobre a geração: se eu sou nissei (segunda geração), sansei (terceira) ou "não sei". Eu sou yonsei (quarta) e por causa da sonoridade às vezes as pessoas acham que eu estou participando da piada sem graça. Pode parecer bobo, e eu realmente não dava importância das primeiras duas, três ou vinte vezes que eu ouvi. Só de imaginar as piadas que a minha filha ouvirá quando responder que é da quinta geração já sinto calafrios (5 em japonês é "go", não preciso nem explicar).

Eu cresci em uma cidadezinha onde eu, minha mãe e meus irmãos éramos os únicos com ascendência japonesa (na verdade tinha uma outra família de três pessoas, a filha do casal era a melhor amiga da minha prima, mas eles se mudaram para o Japão quando minha irmã ainda era bebê), então era normal que houvesse algum estranhamento, mas ainda assim era desconfortável ser chamada pelas poucas palavras japonesas que as pessoas conheciam (por causa da música do É o Tchan, olha que divertido). Ou quando diziam que eu parecia com personagem X (sendo que a única semelhança existente eram o que? Os olhos puxados. E mesmo assim, nem eram iguais).

Com 10 anos nos mudamos para uma cidade um pouco maior, colônia japonesa, e foi só por volta dos 14 ou 15 anos eu comecei a me envolver de fato com a cultura, frequentando o nikkey, indo aos matsuris e dançando bon odori com as amigas. Note: as amigas eram todas não-descendentes, e isso em nenhum momento foi um problema, visto que elas eram muito bem vindas em todos os eventos e os ditiyans e batiyans ficavam felicíssimos com a presença delas nos motiori do kaikan. Talvez tivesse sido um problema se elas fossem dessas que gostam de falar que são mais japonesas que muito japonês, mas felizmente não era o caso. Só com 15 anos eu conheci o bairro da Liberdade, vindo de excursão com o kaikan junto com a minha ba. Com 17 me mudei pra São Paulo pra fazer faculdade (que tranquei no fim do mesmo ano) e estava lá todo sábado, fazendo aula de japonês.

Na época dos matsuris eu brincava (meio que falando sério) sobre um dia participar do Miss Nikkey, mas não botava muita fé que um dia fosse realmente. Não só fui como peguei gosto e participei não de um, mas de quatro concursos. Claro que não ganhei nenhum, mas foi uma experiência muito importante pra mim, primeiro pelas amizades que fiz e segundo pelo o que isso fez pela minha auto-estima. Vocês entendem, eu cresci tendo como "padrão de beleza" o mesmo que a maioria tem: o branco. Me lembro bem de um episódio na pré escola em que cada aluno recebeu um rosto (de menino ou menina) para pintar. Os desenhos foram penduradas na parede da escola e era fácil identificar o meu de longe: a única menina com cabelo preto. Todas as outras haviam tido os cabelos pintados de amarelo (o que é engraçado, porque não havia nenhuma criança loira na classe). Apesar de todo meu esforço, mesmo conscientemente sabendo que meu valor não está associado a minha aparência, eu não conseguia me desgarrar da sensação de inadequação simplesmente. Acho que qualquer mulher, salvo raras e sortudas exceções, consegue entender a sensação, simplesmente porque é essa forma que somos criadas. Independente do que digam sobre esses concursos serem "anti-feministas" (eu até já fui acusada de fazer as pessoas se sentirem um lixo por tentar me sentir melhor comigo mesma) eu não consigo por um momento me arrepender de ter participado. Nunca senti a "rivalidade feminina" durante todo o período de ensaios ou mesmo durante o concurso, nem me senti inferior por não ser uma das vencedoras. Na verdade eu me sinto muito feliz e honrada por ter tido a oportunidade de conhecer tantas meninas maravilhosas (não só por fora).


Enfim, divaguei. É muito difícil me conter quando falo dessas lembranças do concurso, pois são muito queridas para mim. Voltando ao assunto.

Uma vez, há alguns anos atrás, me perguntaram em um desses sites de perguntas anônimas se eu sofria racismo por ser japonesa e eu respondi enfaticamente que não, imagina! Os estereótipos japoneses são em sua maioria muito positivos e eu não tinha por que achar ruim.

Mas acontece que eu tenho sim. Porque quando colocam a gente numa caixinha apertada onde não há espaço para ser você mesmo sem ser repreendida, há algo de muito errado, sim. Qual o problema de acharem que eu sou uma pessoa inteligente, trabalhadora, séria e dedicada (e no caso das mulheres, doce e delicada)?

O problema é que enquanto somos vistos como massa, nossa individualidade nos é negada. Nossos êxitos e esforços não são reconhecidos e nossas falhas e fracassos são ainda mais cruelmente apontados. Porque quando a gente faz algo bem, é óbvio, "é porque você é asiática" (dane-se se eu passei horas ou até dias quebrando a cabeça. Colher os frutos disso é uma consequência genética e não do meu esforço!). Mas se eu não sou boa em matemática, se não tiro boas notas, se não sou organizada, se não sou magra (!) eu estou envergonhando a raça, por exemplo. Fora a expectativa de uma personalidade submissa. Mas as pessoas nunca colocarão nesses termos, claro. Às vezes nem elas mesmas percebem que estão colocando essas expectativas baseadas unicamente na aparência de alguém. Talvez se fosse algo consciente elas se envergonhariam.

Estamos aqui há 110 anos e ainda somos vistos como estrangeiros. 110 anos e ainda sou questionada se eu falo japonês, se já fui pro Japão, se meu marido também é descendente (e depois do susto ainda perguntam o que minha família acha disso), se eu conheço família tal (como se a gente fosse só uma meia dúzia espalhada por aí, e não a maior população de descendentes fora do Japão). Eu sei, eu sei: as pessoas querem ser simpáticas, querem demonstrar interesse com o pouco que conhecem. Isso não quer dizer que seja menos incômodo ou ofensivo, mesmo que elas não percebam que estão julgando a gente por estereótipos que nem minha vó seguia mais (embora ela tenha casado com filho de japoneses ela recusou todos os pretendentes que meu bisavô escolheu pra ela e conseguiu casar com meu avô, de quem ela gostava. Nenhum dos filhos deles casou com descendente). Elas não fazem por mal. Bem, ao menos a maioria não faz. Teve um episódio lamentável em que uma senhora no metrô ficou me questionando sobre minha ascendência e teve a petulância de dizer que por ser "misturada" eu não poderia dizer que era yonsei, que só quem tem o sangue "puro" pode usar da nomenclatura. Essa senhora não era nem de longe descendente, mas disse que tinha muitos amigos que são. Não obstante, ainda achou ok falar que minha filha estava incomodada no sling. Incomodada estava eu com esse tanto de baboseira que tive que ouvir.

Já aconteceu também de várias pessoas virem me falar que "adorariam ser japonesas" porque acham lindo. Imagino que a intenção fosse elogiar, né? Também imagino que vocês gostariam só de ter a aparência que julgam bonita, ou quem sabe fazer parte da comunidade desde cedo, já que tem interesse pela cultura. Não acho que realmente gostariam de passar pelas mesmas coisas, como o bullying que eu sofri quando era criança ou as microagressões quase diárias que eu citei. Novamente, eu acabo relevando porque sei que as pessoas não fazem por mal... mas até quando, sabe? Um pouco de educação (no sentido de se informar mesmo) não faz mal a ninguém. Mas como sempre, quando apontados os erros ou o por quê de uma coisa ou outra ser na verdade ofensiva, as pessoas tendem a ficar elas mesmas ofendidas e na defensiva.

Em todas as vezes que leio um relato de alguma colega asiática sobre questões que as incomodam, pelo menos 99% das vezes acabo me identificando, e isso faz com que eu veja o quanto, mesmo sendo indivíduos únicos e singulares, ainda temos muito em comum. Entender essas particularidades foi vital para que eu visse as coisas com a devida seriedade com que elas merecem ser tratadas. Ver que eu não estou sozinha com certeza me dá mais força. E embora minha ascendência seja sim uma grande parte de quem eu sou, ela não deve nunca me definir nem limitar, pois eu sou muito mais do que uma "mesticinha" ou uma "japinha", sou muito mais do que a menina estudiosa, a mocinha quieta e séria: eu sou uma pessoa como vocês, e exijo ser tratada como tal.



Gostaria de finalizar o post com alguns esclarecimentos:

- Eu NÃO acho que o racismo sofrido por asiáticos é equiparável ao sofrido por negros ou indígenas, chega a ser indecente sequer pensar em uma comparação do tipo.

- Eu RECONHEÇO os inúmeros privilégios de ser vista como uma minoria modelo, embora isso não me impeça de reconhecer também os "contras" desses mesmos privilégios.

- Eu estou falando da minha experiência pessoal, 1) pode se assemelhar a de muitas outras, assim como 2) pode ser diferente de muitas outras, o que não invalida nem meus sentimentos nem minhas percepções.

Por último, mas não menos importante: Eu acho de suma importância ressaltar que sou descendente de imigrantes. Não sou uma imigrante, muito menos uma estrangeira. A percepção de inúmeros fatores culturais é muito diferente para japoneses e descendentes de japoneses vivendo fora do Japão, favor notar. Não adianta dizer que "no Japão eles não ligam" ou "se um japonês de verdade não se ofende, por que os descendentes ficam criando caso?". Apenas não. O fato de eu não ser uma estrangeira por si só deveria servir de indicativo pra verem que é diferente, e não simplesmente pra invalidar nossa opinião porque "os japoneses de verdade não se ofendem". Os japoneses "de verdade" não tem que lidar com as mesmas questões que os que emigraram e seus descendentes. Espero que tenha ficado claro.


Créditos das fotos: Carolina Sakuma

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Sobre body shaming

Esse foi um post muito complicado e demorado de ser feito, demorei muito pra escrevê-lo e estou publicando ainda achando que não está perfeito, que falta algo e que eu poderia ter trabalhado melhor alguns pontos, mas ainda sem saber como poderia tê-lo feito. Dito isso, espero que vocês me ajudem a trabalhar melhor isso, contando suas experiências e deixando questionamentos que acharem pertinentes nos comentários ♥ Vamos lá.



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O que é body shaming?
Body shaming pode ser tanto humilhar ou ofender alguém por sua aparência ou determinado atributo do corpo quando pela maneira como a pessoa exibe esse atributo. O body shaming geralmente tem como base outros tipos de preconceito, como a gordofobia, o racismo e o slutshaming, além de, em muitos casos, fomentar a rivalidade feminina.

Precisa de exemplos? "Ah, tudo bem ser gorda, mas usar essas cropped...", "Não sei porque está usando esse decote se nem tem o que encher", "Que exagero esses cabelos... essa cor não fica legal no seu tipo de cabelo" (dificilmente o "tipo" criticado em questão é liso ou ondulado, por que será? Racismo? Não, imagina).



"Garotas curvilíneas são lindas... Ossos são pra cachorros, carne são para os homens."
Não, meu corpo não existe pra satisfazer nem agradar os homens, obrigada.

Percebam as imagens acima. Todas elas dão a entender que um tipo de corpo é melhor que o outro: é melhor ser magra e vestir 36, é melhor ser curvilínea porque quem gosta de osso é cachorro, quem usa tamanho 34 (0) são só meninas de 12 anos. Fora que né: algumas levam em consideração que as "carnes" são para os homens, logo o fator decisivo pra achar melhor ter curvas é que os homens preferem.

Deixa eu falar duas palavras pra vocês: rivalidade feminina. Mais duas palavras: male gaze (ou simplesmente "olhar masculino", porque a se a gente tem a palavra em português às vezes é bom usar).

Não sei vocês, mas pra mim falar mal do corpo das outras mulheres e usar como justificativa o que os homens preferem pra mim é uma PÉSSIMA ideia. Primeiro e mais obviamente porque você não tem nada que falar de um corpo que você não habita, segundo que se você precisa justificar sua "opinião" com a preferência de terceiros convém questionar se é uma opinião que vale a pena dividir, pra começar. Terceiro ponto: vamos parar com essa heteronormatividade de supor que toda mulher gosta de homem, né não?


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Cuidado com as elofensas!

O que é uma elofensa? Sabe aquele "elogio" que você fica em dúvida se a pessoa está te cumprimentando ou alfinetando? Tipo: "Nossa, você tá linda com essa cor de cabelo, bem melhor que aquela antiga que te deixava com cara de velha!" ou "Puxa, parabéns, ficou muito bom isso aí, não achei que você fosse capaz!", "Acho super legal que você usa o que quer sem se importar, se eu tivesse um corpo como o seu jamais teria coragem!" (alô, gordofobia) ou ainda "Que incrível que essa roupa ficou em você, geralmente não fica boa em pessoas com uma pele escura como a sua!" (ainda tem racismo de leve, que beleza ¬¬). Não dá pra elogiar sem criticar? Se você acha que não dá, melhor não falar nada.



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"Então eu não posso achar tal coisa feia? Eu tenho direito de ter opinião!" Sim, você pode e sim, você tem. Eu mesmo acho muita coisa feia, e embora eu tenha o direito de achar isso, não estou exercendo meu direito quando faço com que a pessoa se sinta mal por isso, ou quando ofendo alguém apenas por estar dando minha opinião não-solicitada. Isso não é ter opinião, é ser mal educada e desnecessária.

Deixa eu dar um dica de amiga: a gente tem uma coisa muito louca e tecnológica chamada pescoço, que direciona pra onde a gente vira o rosto e, consequentemente, os olhos. Embora não dê pra fechar as narinas pra bloquear totalmente odores desagradáveis ou ativar surdez temporária pra não ouvir certas coisas, a gente pode escolher o que a gente vê! :D E mais ainda: a gente pode escolher não ser uma cretina sobre o que a gente vê! Mesmo que aquilo te incomode, você não precisa torcer o nariz, fazer cara de nojo nem fazer a pessoa se sentir mal e julgada. Você pode ignorar e olhar pro outro lado.

Outra coisa que acho interessante questionar é: por que eu acho tal coisa feia? Eu só acho desagradável mesmo ou durante toda a minha vida tive outras pessoas (e a mídia, essa linda) me dizendo nas entrelinhas (ou descaradamente) que ser gorda nunca é saudável, que cabelo longo é mais ~feminino~ (portanto mais adequado pra qualquer mulher), que mulher tem que ter seios e bunda grandes e cintura fina, que mulher que não se depila é porca?

É fácil falar que você se depila porque gosta (como se não doesse), é fácil falar que você se maquia porque gosta (mas tem vergonha de postar foto sem maquiagem, mas você se olha no espelho de cara limpa e não gosta do que vê), é fácil projetar tudo isso nas outras pessoas, achando que é um baita elogio comentar como a amiga está linda e magra, mesmo que tenha sido por conta de uma depressão ou transtorno alimentar. É difícil rever tudo isso, porque isso exige que a gente saia da nossa zona de conforto.

Também não estou querendo dizer que somos totalmente manipuláveis e que nenhuma opinião que tivermos é de fato nossa, mas quero chamar a atenção para o fato de que nossos gostos não surgem do vácuo, que somos em grande parte produto da sociedade em que estamos inseridas e da criação que tivemos. Tem algum problema gostar de maquiagem? Claro que não. Ela pode ser uma forma de expressão, sendo mais artística ou não. Tem problema odiar se ver sem maquiagem e precisar de vários produtos pra se sentir confortável consigo mesma? Provavelmente, né?



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Eu sinceramente não concordo com essa ideia de que "todo mundo é bonito do seu jeito", mas acredito que a beleza possa ser encontrada em todos os lugares, até porque é um conceito muito subjetivo, e nem todo mundo vai enxergar beleza nas mesmas coisas. Não tem problema admitir que acho algumas pessoas feias (mas não tenho direito nenhum de chegar nelas falando isso porque simplesmente não é da minha conta!). Pra mim bonito é o que agrada os meus olhos, e se não agradar também, tudo bem, tem outras características mais importantes a serem notadas e o valor de alguém não é determinado pelo quão eu, você ou toda a humanidade a acha bonita. Tem muitas outras qualidades mais importantes e impressionantes, como ser inteligente, altruísta, ótima em consertar coisas ou fazer ótimas planilhas no Excel (?).

Eu sei que é muito difícil de desconstruir isso em uma sociedade que coloca nossa aparência como quesito principal para medir nosso valor como pessoas, onde existem 1001 maneiras de se adequar para se tornar agradável aos olhos dos outros, e quando a pessoa diz "eu não me acho bonita" não precisa necessariamente significar que ela tem baixa autoestima, talvez ela apenas não veja isso no espelho. Talvez mesmo assim ela saiba que tem ótimo senso de humor, que ninguém faz uma macarronada melhor ou que tem um dom inato para perceber quando alguém precisa de um carinho e não precisa que você a console dizendo: "Imagine, você é linda, sim!" porque na cabeça de algumas pessoas, isso não é o mais importante, e nem deveria ser.



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Também não quer dizer que quando a pessoa elogia determinado aspecto da sua aparência ela esteja sendo falsa ou falando só pra agradar: acredite, tem gente que acha mesmo bonito marquinhas de estrias, sardas em excesso (como eu sei que eu tenho) e eu posso me incluir no time das pessoas que acham olheiras interessantes (mas por favor, não achem que eu romantizo insônia e outros problemas por causa disso)! Então mesmo que você não ache aquilo bonito e que a sua opinião sobre si mesma seja de fato a mais importante, não quer dizer que a opinião positiva das outras pessoas não seja sincera.

Amar seu corpo e achá-lo lindo, embora pareçam estar quase sempre ligadas, são coisas diferentes. Você pode achar que seu nariz não é o mais bonito e ainda reconhecer que ele é único, que te dá personalidade e que, no conjunto da obra, combina com você. Você pode achar suas pernas pouco atraentes, mas ficar feliz por elas serem fortes e saudáveis e te sustentarem durante o dia. Você pode achar seus olhos assimétricos e preferir "consertá-los" com maquiagem, mas ficar grata por enxergar o mundo através deles. Seu corpo é o templo que sua alma habita e ele pode não ser o mais lindo do mundo, mas é importante se sentir bem e confortável nele.



"Ter uma imagem corporal positiva não é acreditar que seu corpo é bonito; é acreditar que seu corpo é bom, independente da aparência. Não é pensar que você é bonita, é saber que você é mais do que bonita. É entender que seu corpo é um instrumento para seu uso, não um ornamento para ser admirado."

- Lindsay Kite, PhD

Também gostaria de indicar esse vídeo da Jout Jout: As pessoas não estão aí pra agradar seu senso estético

Por fim, queria lembrar que todo mundo está lutando batalhas que nós nem podemos imaginar e por mais insignificante que pareça, se a gente não pode ajudar, não custa atrapalhar.

E fica um lembrete:

"Numa sociedade que lucra com a nossa insegurança,
gostar de si mesma é um ato revolucionário."

domingo, 5 de junho de 2016

AF&LN: Pessoas que admiro [Tema de Maio]

O tema de Maio do Alternative Fashion & Lifestyle Network foi "Pessoas que admiro", e eu tive certa dificuldade em pensar sobre quem colocar nesse post porque já fiz alguns do tipo (do Desafio Lolita de 30 dias e do Desafio de 52 semanas) e não gosto de ficar fazendo post repetido.

Por fim, acabei decidindo fazer o post sobre uma única pessoa, mas uma que eu acho que todo mundo devia conhecer '-'v

ALB

Angelina, aka ALB, é uma youtuber e ilustradora. Conheci ela rodando pelo tumblr, através dessa gifset, que felizmente linkaram para o vídeo de onde elas foram tiradas. Assisti esse e vários outros vídeos dela no mesmo dia e passei a seguir assiduamente.

Oh! Ela curte lolita, embora eu só tenha visto ela usando fulloutfit uma vez. Ela parece curtir mais usar só as saias com um top justo, tipo:

💝✨

A video posted by ALB (@albinwonderland) on



Ela tem tutoriais de maquiagem, penteados, unhas e vlogs de passeios, mas sendo uma feminista, o que eu mais gosto são os vídeos em que ela simplesmente diz o que pensa :3 Alguns dos meus favoritos, que acho que vale a pena vocês verem também:


I'm only friend with boys
Sobre o mito da rivalidade feminina e sobre como somos ensinadas que a amizade de homens é melhor do que a de mulheres. [SPOILER: Tudo isso é bullshit.]



Fake Geek Girls





Is thin privilege real?

[SPOILER: Sim.]




How to deal with street harrassment



Vocês já conheciam ela? :3 Tem outras youtubers no estilo dela que vocês curtem?


Vejam o que as outras integrantes do AF&LN postaram sobre o tema do mês aqui.


Blog
Página do facebook

domingo, 26 de abril de 2015

Mulheres preferem homens que sabem calar a boca

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Não passa UM dia sem que apareça na timeline um artigo tipo "Saiba as maquiagens que os garotos não curtem", "10 coisas que homens odeiam nas mulheres", "Descubra o que os homens acham de (insira item de uso feminino que eles não usam/entendem/consomem)". Isso aparece tanto por conta de página que paga pra aparecer o anúncio quanto gente compartilhando o quão ridícula a matéria é (porque, felizmente, eu não tenho gente no meu facebook que dá razão pra esse tipo de imbecilidade).

Eu acredito que continuam publicando esse tipo de lixo com o único intuito de causar e ganhar acessos mesmo que seja para serem xingados. Toda publicidade é bem vinda, todo clique é contado, mesmo que seja pra falar o quão ultrapassada é esse tipo de coisa.


Vendo pela quantidade de resultados obtidos, não é uma diferença tão esmagadora, "apenas" 340mil a mais na primeira pesquisa, mas olha só: logo nos cinco primeiros resultados da segunda pesquisa aparecem artigos sobre coisas que os homens não curtem nas mulheres.

Mas o interessante é a diferença no conteúdo das matérias. Quando se trata do que as mulheres gostam ou não no homem, a maioria das coisas está relacionada a caráter (maturidade, educação, gentileza) e atitudes dentro do relacionamento (como ser carinhoso, lembrar de elogiar, avisar quando for se atrasar). Enquanto isso, as coisas que os homens gostam ou não estão quase sempre relacionadas à aparência e, quando é comportamento, é quase sempre pro lado sexual.

Outro ponto interessante: os sites femininos parecem querer avisar as mulheres do que ser/fazer a fim de agradar o parceiro ou atrair um possível namorado. Enquanto isso, quando os sites masculinos falam sobre as mulheres, a via de regra é destilar machismo e estereótipos sexistas tipo o batido "mulher se veste pra fazer inveja em outras mulheres" chegando ao cúmulo de justificar que se ela não gosta da sua mãe é porque "mulheres odeiam outras mulheres". Fora isso, é comum aconselharem a mentir sobre o que acham de outras mulheres e até esconder a existência de amigas e colegas (mas só as bonitas e gostosas, claro!) pra "não gerar ciúme" (pra mim isso é só enganar e ser desonesto mesmo). E posso falar? Embora seja lugar comum falar que os caras preferem que as mulheres se depilem, achei hilário que tem cara tendo que lembrar os outros que precisa tomar banho de vez em quando porque mulher não curte homem fedido. Gente?


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Não tem problema você levar em conta o gosto do(a) seu(ua) parceiro(a) de vez em quando, querer fazer um agrado, perguntar qual sapato ou batom ele(a) prefere. Eu faço isso às vezes, geralmente por indecisão, mas às vezes porque quero agradar e não faz tanta diferença assim se uso o sapato vermelho ou preto, o batom mate ou o cremoso. Não tem problema você ouvir ele quando fala pra levar uma blusa porque pode esfriar, perguntar se o sapato realmente está confortável porque vocês vão andar bastante.

Mas tem muito problema se você só faz o que ele quer o tempo todo. Tem muito problema se seu parceiro faz você trocar de roupa, tirar o batom ou abandonar um estilo que gosta porque ele não acha bonito, acha que é vulgar ou "coisa de puta". Tem muito problema se, "permitindo" que você use o que você quer, ainda insiste em te ridicularizar e fazer comentários desagradáveis. Isso é relacionamento abusivo, amiga, e você não merece isso. Você merece alguém que te respeite e te apoie.


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No entanto, esse tipo de "controle" não vem só dos namorados (nem dos pais que insistem que nossa saia tá muito curta): vem de todos os lugares. A polícia da aparência feminina está em todos os lugares, e é engraçado notar como seus membros mais ardorosos sequer usam os itens que são criticados!

Maquiagem, esmalte, moda feminina: tudo isso é feito pra nós, não pra vocês. Se são feitos pra nós e se nós usamos, é porque nós gostamos. Ninguém que está usando suéter largo, legging estampada e sneakers está achando que esse é O look pra conquistar os gatchenhos. Ninguém com um delineado perfeito, batom vermelho e unhas longas com glitter está sendo enganada pensando que essa é a make dos sonhos dos rapazes. Nós usamos por que, por mais chocante que possa parecer, todo o nosso ser não está no mundo pra ser moldado de acordo com o gosto de vocês.

"Tudo o que eu tenho dizer é:
querido, não tem uma única coisa que eu faça pela manhã que seja para você.
Se eu gasto cinco minutos com a minha aparência e não uso nenhuma maquiagem, é para mim.
E se eu gasto duas horas na minha maquiagem, é para mim.
Nós não fazemos essa merda para vocês!"
(desse vídeo incrível da ALB )

Meu querido, quem tá usando a roupa sou eu. Quem tá usando a maquiagem sou eu. Quem tá usando o esmalte sou eu. Não gostou? Olha pro outro lado! Ninguém tá te obrigando a comprar e usar igual. Você é totalmente livre pra usar suas unhas curtas com esmalte clarinho, olha que bacana :D

"Ain, mas só por que eu sou homem eu não posso ter opinião?"
Você pode ter uma opinião, mas se for sobre o corpo/aparência de outra pessoa, guarde-a para o dia em que ela for solicitada. :*


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Só pra ter um pouco de noção da egomania desses meninos, seguem comentários reais de um artigo do gênero:

"Batons muito chamativos, você vai me beijar com aquilo? Eca.”
Amigo, sendo otário desse jeito não vou te dar nem bom dia.

"Acho que a saia de cintura alta deveria acabar. É uma daquelas coisas exageradas, falta sutileza."
Sabe o quão mesquinho você parece falando que só porque você não gosta de algo essa coisa deveria acabar? Menos, sabe. Bem menos.

(Sobre salto alto) "Os homens não vão reparar nas suas curvas se seus tornozelos estão bambos e você anda como um bebê com a fralda cheia e/ou uma girafa bêbada."
Então é esse o truque? Se você andar bem torta não vão ficar olhando pros meus peitos nem passando cantada idiota? Thanks.

(Sobre terninhos) "São roupas que os homens usam para trabalhar... Você é uma mulher."
Obrigada, Capitão Óbvio. Agora pegue uma máquina do tempo e vá pra 1930 falar isso pra Chanel.

(Sobre ombreiras) "Não estamos nos anos 80."
No shit, Sherlock! Também não estamos no século XIV pra você continuar com esse cérebro de ervilha.


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O grande problema não é falar que acham X mais bonito que Y. O problema é ter que ridicularizar Y, como se X fosse obrigatório, todas as mulheres do mundo deveriam usar X, X é a verdade absoluta, quem usa Y é ridícula e vulgar. É muito difícil ver um cara conseguir elogiar algo sem desdenhar de outra coisa. Se vai elogiar gorda, tem que desdenhar a magra. Se vai elogiar a beleza natural, tem que criticar as que gostam de maquiagem. Parem, sabe? o_õ Que desnecessauro.

Ainda tem os caras que vão dar pitaco achando que estão ajudando. Por exemplo: uma menina reclama de algo que a incomoda na aparência (pasmem: às vezes ela quer desabafar, e não "confete"), por exemplo celulite ou estrias, aí vem o cara bem intencionado dizer que "Ah, não esquenta, homem não liga pra isso."??? Cara, quem liga pro que os homens acham? É sobre a garota se sentir incomodada com algo (não deveríamos, mas sentimos!), não é sobre vocês! Não é como se o fato de vocês não acharem grande coisa imediatamente invalidasse o incômodo que a pessoa sente. É muito difícil de entender? Geez.


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Se você precisa por alguém pra baixo, cale a boca. Se você não vai acrescentar nada de positivo, cale a boca. Se não vai ajudar ninguém, cale a boca. Se você não sabe se a pessoa vai gostar, cale a boca. Na dúvida, cale a boca.

Muito ajuda quem não atrapalha.

sexta-feira, 7 de março de 2014

J-fashion e moda alternativa e o que slutshaming tem a ver com você


fonte: fuckyeahsubversivekawaii

Slut shaming (ou slut-shaming) é definido como o ato de induzir uma mulher se sentir culpada ou inferior devido a prática de certos comportamentos sexuais que desviam de expectativas tradicionais de seu gênero.1 2 Estes comportamentos incluem, dependendo da cultura, ter um grande número de parceiros sexuais, ter relações sexuais fora do casamento, ter relações sexuais casuais, agir ou se vestir de uma maneira que é considerado excessivamente sexual. Isso geralmente é feito através de xingamentos, bem como de outras formas mais discretas ou disfarçadas. Entre os diversos insultos, pode-se encontrar os termos "vadia", "puta", "biscate", "oferecida", etc.
O slut-shaming atua de forma a policiar e restringir a sexualidade feminina e sua expressão, definindo os limites do comportamento sexual aceitável.
Fonte: Wikipedia


Gente, essa última frase é TÃO importante! "policiar e restringir a sexualidade feminina e sua expressão" Eu acrescentaria que não se trata só de reprimir a sexualidade: usar os insultos misóginos caracteristicos para criticar o modo de vestir ou a postura de uma mulher também se enquadra em slut shaming.

Ok, já expliquei o que significa o termo, mas o que ele tem a ver com lolita, j-fashion e outros estilos alternativos? Bom, eu tenho presenciado com frequencia assustadora meninas usarem o slut shaming como forma de se "diferenciar" de meninas de outros grupos e estilos que elas consideram vulgares e, portanto, inferiores. O que tem a ver achar que roupa define caráter e portanto te faz melhor ou pior que alguém eu não sei, mas parece fazer sentido para algumas pessoas. Loucura, não?

Vocês vão ver que eu uso o funk e as funkeiras como padrão de comparação nesse texto, mas isso se deve ao fato de que é o estilo que eu mais vejo sendo discriminado pelos adeptos de estilos alternativos. Não vou entrar no mérito de que o preconceito contra a cultura do funk (usei a palavra "cultura" para me referir ao funk, vai chorar? 8D) ser uma postura classista e racista, mas perdi as contas de quantas vezes vi meninas falando “eu queria usar lolita, mas aqui na minha cidade só tem umas funkeiras sem pudor”, “meus pais não me deixam usar lolita, mas não entendo por que. Ainda se minhas roupas fossem vulgares...” ou “pelo menos não estou por aí dançando funk”. Por que obviamente só ter funkeiras na sua cidade te impede de usar algo diferente delas, usar roupas "vulgares" te desqualificaria como uma filha que merece ganhar roupas lolita dos pais e dançar funk te faz ser uma pessoa ruim :D Só que não.

É compreensível que estilos tão diferentes não se misturem tanto. Não é de se estranhar que as roupas curtas e justas das funkeiras não agradem as lolitas, do mesmo modo que muita gente deve olhar pra essas meninas com roupas de boneca e pensar mil coisas, muitas delas não tão agradáveis, mas como pessoas que sofrem preconceito diariamente pela roupa que vestem nós deveríamos saber melhor. Nós não deveríamos julgar as pessoas pelas roupas, pela música que ouvem ou qualquer coisa que não esteja diretamente ligada ao caráter ou à maneira como elas te tratam e, como eu já disse, roupa não define caráter.

É totalmente normal você não partilhar do mesmo gosto (afinal, que chato o mundo seria se todo mundo fosse igual), achar “feio” o que as funkeiras ouvem ou vestem, mas você acha que elas são todas vagabundas por isso? É ótimo expressar individualidade e ter a liberdade de poder se vestir de maneira diferente dos padrões, mas como exatamente o fato de você usar uma saia rodada no joelho e não mostrar o vão dos seios te torna uma pessoa melhor, se você usa isso para humilhar as pessoas e se sentir superior?



fonte: fuckyeahsubversivekawaii

Mas não é só no sentido moda alternativa → funk que isso acontece, não. Já vi muita lolita sendo vítima de slutshaming vindo de outras (presumivelmente) lolitas. Casos de se valerem de anonimato (vocês sabem do que estou falando) para expor o que a menina faz ou deixa de fazer (especulações em sua maioria, mas mesmo assim) como uma tentativa de abalar a popularidade da pessoa ("oh, olha que vadia, não merece a admiração de vocês!"). Gente, é sério que a dor de cotovelo é tão grande que tem que se rebaixar a esse nível pra tentar atingir alguém? A falta de argumento é tanta que precisa ficar falando que uma é lésbica, que a outra tem relacionamento aberto e outra curte fazer coisas que você não como se essas fossem coisas ruins? Ruim é ser homofóbico! Ruim é não ter caráter!

Você não precisa gostar nem concordar com que as outras mulheres fazem ou deixam de fazer (embora seja sempre bom se perguntar por quê. Você apenas não gosta mesmo ou foi ensinada a achar isso?), mas você também não precisa expor as pessoas e humilhá-las pra mostrar que não concorda. Sabe o que mais você pode fazer pra mostrar que não concorda? Não fazendo igual. Se você sente necessidade de expor sua opinião porque não quer ser confundida com "esse tipo", se pergunte por que. A opinião dos outros é tão importante assim? Você acha que precisa xingar a funkeira pra mostrar que não é uma ou basta não curtir funk? Se você precisa ofender pra se diferenciar, sinto muito, mas você pode até estar sendo "diferente", mas dificilmente está sendo melhor.

"(...) vamos deixar uma coisa clara: você não é melhor que uma menina que usa shorts curto. Aliás, só achar que você é melhor que alguém por causa de roupas, já não te faz uma pessoa boa.

Se você tem interesse em ser melhor que a pessoa comum, recomendo programas de voluntariado. Tem de animais, pessoas com deficiência, doenças graves, crianças, idosos, doação de sangue. Tem programas de arrecadação de brinquedos, de livros, de fraldas geriátricas, de material de higiene pessoal. Tem dias para dar atenção, carinho, escutar alguém. Se for corajosa dá pra ir longe e ajudar a salvar o mundo da miséria, fome e doença nos cantos mais sujos e tristes do mundo. Só se envolver com a sua comunidade local, trabalhar numa horta, se envolver na política, movimentos sociais, já ajuda. Eu ando vendo muito sobre isso, se precisar de sugestões de programas e ideias, é só falar.

Eu te garanto que depois de participar desse tipo de coisa você vai descobrir uma coisa muito interessante: que você vai se sentir mais completa e não vai ser preocupar muito em se sentir melhor que os outros, porque você vai se sentir melhor com si mesma [sic]. A vida vai ter mais sentido. E não vai nem ligar se tem gente andando sem calcinha por aí, ou se tem homem beijando homem. Tanto faz. Eu quero é cuidar da minha vida e ser feliz. Se a pessoa está feliz assim, quem sou eu para julgar."

- Chadias (trecho retirado desse post)



Alguns exemplos de mensagens que vejo sendo amplamente compartilhadas no facebook que também podem ser consideradas slut shaming:

♦ Chamar cosplayer que faz cosplay sexy de cosputa (cosplay não é moda alternativa, mas :B)
Alguns ainda explicam que cosputa não é fazer cosplay de uma personagem sexy, mas erotizar uma personagem que não era pra ser sexy. Por que oh, pode usar original costume à vontade, mas como se atreve a mostrar mais do seu corpo do que eu acho correto? E depois ainda reclama se sofre abuso no evento!? Tsc tsc. (por favor, notem o sarcasmos. grata.)

♦ Chamar de hipócritas mulheres que curtem sair e ficar com outras pessoas e postam frases de amor
... mas quando um homem faz isso tudo bem, quer dizer que ele mudou, ou que está esperando a mulher certa por aí (afinal essas mulheres de balada não servem pra namorar, né? tsc tsc - mas ele vai pra balada e tá lindo e puro? Ok.)
Novidade quentinha pra vocês: Hipocrisia é isso aí que vocês fazem, flw.

♦ “Feio não é falar palavrão, feio é ser vadia.”
Feio é cuidar da vida dos outros e taxar de vadia quem você nem conhece, tá louca?



fonte: fuckyeahsubversivekawaii

Relendo esse texto eu posso perceber que pareço um tanto agressiva. Juro pra vocês que eu não estou querendo apontar o dedo no nariz de ninguém e falar "Nossa, que pessoa horrível você é! Que vergonha!", mas eu realmente quero que vocês reflitam sobre qual a necessidade de fazer isso, por que continuar fazendo e ficaria imensamente se pudessem parar.

Eu sei que é difícil. Eu sei que a gente cresce achando que somos todas rivais, a gente cresce aprendendo a não se amar, que ser mulher é ruim, que você precisa fazer X e Y, deixar de fazer outras tantas pra ser uma "mulher de verdade", "de respeito" e mais um monte de merda que tentam enfiar pela nossa goela desde cedo. A gente ouve que mulheres são falsas, interesseiras, fúteis, superficiais e acaba acreditando nisso. Tentam enquadrar a gente numa caixinha de gênero e comportamento apertada e escura que, adivinha? Não é confortável para nenhuma de nós. A grande maioria não se encaixa. E olha só, ser "diferente" não faz a gente melhor que a coleguinha, faz a gente humanas.

A gente é ensinada a se reprimir, que tantas coisas que são saudáveis e admiradas nos meninos são proibidas pra nós, que nosso mundo é limitado. Por que se limitar ainda mais odiando aquelas que, se você pensar bem, nem são tão diferentes de nós? Todas nós sofremos com isso em algum nível e sabemos como é. Se você não sabe, ou você é muito ingênua ou uma grande privilegiada. Se for o segundo caso, tenha consciência de que não é por que você nunca sofreu com isso que deve duvidar do sofrimento dos outros. Ou então você nunca percebeu por que está ajudando a causar esse tipo de sofrimento em outras pessoas, talvez? :/

Eu sei que amar e apoiar as irmãs é um passo muito grande. Sei mesmo. Mas tentar não odiar, não ofender e humilhar, é um começo. Respeitar é um grande passo.



fonte: fuckyeahsubversivekawaii

You can call me a sinner
And you can call me a saint
Celebrate me for who I am
Dislike me for what I ain't
Put me up on a pedestal
Or drag me down in the dirt
Sticks and stones will break my bones
But your names will never hurt
- Like it or not, Madonna

Você pode me chamar de pecadora
E você pode me chamar de santa
Me celebrar por quem eu sou
Desgostar de mim pelo o que eu não sou
Me por num pedestal
Ou me jogar na lama
Paus e pedras quebrarão meus ossos
Mas seus nomes nunca irão machucar

Agradecimentos especiais para a Paula RM que me ajudou com o post :3

domingo, 17 de fevereiro de 2013

[Pergunte a Ichigo] Princesa: ser ou não ser?


fuck yeah subversive kawaii

Ichigo, eu vi esse texto no blog da Lola falando sobre uma escola de princesas. No texto ela fala sobre essa questão de chamar as garotas de princesas, etiqueta, de querer se comparar a monarquia europeia e etc. O que você acha sobre isso? Já que a maioria das lolitas se inspira no vitoriano e rococó, inclusive no lifestyle, muitas são graciosas, gostam de seguir alguns princípios de etiqueta e comportamento, usam disso na decoração e no dia-a-dia e se denominam princesas como você. Eu acho tudo isso lindo, mas o texto mostra uma visão que meio que rebaixa as garotas que escolhem esse modo de vida, mesmo que não sejam lolitas.

- Jacqueline


Oi, Jacqueline! Muito obrigada pelo seu e-mail! Esse é um assunto que eu acho muito interessante. Já havia lido esse post da Lola (gosto bastante do blog dela!) e já li muitos outros que falam sobre as princesas de um ponto de vista feminista, a maioria de forma negativa, salvando-se apenas as princesas mais recentes como Mulan, Tiana, Rapunzel e Merida. É bem verdade que as princesas mais antigas representam um ideal feminino passivo e anti-feminista, onde as mulheres são frágeis e indefesas, e além de dependerem do príncipe para serem salvas as outras mulheres da história são sempre inimigas ou rivais, por isso eu não tenho como discordar desses artigos, mas também não posso achar que as princesas sejam de todo ruim. Muita gente sabe que eu gosto de princesas, mas talvez nem tantas pessoas saibam que eu sou uma feminista, e acho que uma coisa não anula outra.

Eu não acho que princesas sejam uma influência negativa, mas com certeza acho preocupante que sejam o único referencial de identidade de gênero das meninas, especialmente meninas muito jovens, que precisam tanto de exemplos e modelos. Há alguns dias atrás vi uma matéria chamada Princesas da Disney moldam feminilidade em crianças sobre uma pesquisa feita aqui mesmo no Brasil, que mostra bem como as princesas ainda influenciam as meninas e sobre a percepção do que é ser uma princesa. Além do típico padrão de beleza e comportamento, que eu já esperava, fiquei um pouco espantada pelas meninas reconhecerem como princesas apenas aquelas que se casam (!), citando um trecho da matéria: "indagada sobre o porquê Mulan não seria uma princesa, uma das crianças respondeu: 'Tia, para ser princesa precisa casar, né? Senão não vai ser princesa, vai ser solteira!'". Eu fiquei surpresa com isso porque, embora seja óbvio que associem princesas com a espera pelo príncipe encantado, não esperava que as crianças achassem que uma princesa só é uma princesa depois de atingir o objetivo do casamento. Acho que isso também reflete um pouco do que ainda é esperado de uma "mulher de verdade". Segundo a antropóloga que realizou a pesquisa: "As princesas da Disney carregam consigo um conteúdo que acaba funcionando como uma restrição a ideia do que é ser humano, enquanto mulher. É necessário garantir que a formação das crianças tenha também outros tipos de referenciais. A diversidade existe, e as crianças devem saber que não há apenas uma maneira de serem felizes, bonitas e aceitas." Acho que é exatamente esse o ponto: as crianças não podem ter apenas um único referencial e se prender tanto a apenas um padrão tido como sendo o ideal.

Eu fico um pouco chateada quando atacam tão ferozmente as Princesas Disney porque, poxa, eu cresci vendo filmes das Princesas e nem de longe acho que virei uma aspirante a dona de casa passiva cujo único desejo é encontrar o príncipe encantado para casar e ser a mãe dos filhos dele. Acontece que eu cresci assistindo as Princesas e brincando de bonecas e panelinhas, mas também jogando Mortal Kombat, lendo enciclopédias tão logo aprendi a ler, idolatrando A Família Addams e a Elvira e assistindo Power Rangers, Beakman e Pokémon religiosamente junto com o meu irmão. Eu tenho um irmão e primos com idades próximas a minha, então sempre foi comum brincarmos todos juntos, sem restrições rígidas de papéis e gêneros, o que acho que contribuiu bastante pra eu me sentir livre da obrigação de corresponder a um único padrão. Se eu tivesse crescido cercada apenas de rosa e com pais que insistem em me lembrar constantemente de que eu sou uma menina e deveria apenas gostar de "coisas de menina" eu poderia ter crescido para ser uma pessoa diferente do que eu sou hoje.



"Não deixe que ninguém faça você se sentir mal por ser quem você é."
fuck yeah subversive kawaii

Sobre a moça que escreveu o post "rebaixar as pessoas que escolhem esse modo de vida", eu não vejo dessa forma. Acredito e até entendo que algumas pessoas podem considerar ofensivo, mas pra mim é a mesma coisa quando as feministas parecem desdenhar de donas de casa passivas e tal. Não é que desprezemos donas de casa, de maneira alguma, apenas repudiamos a ideia de que seja a única opção aceitável para uma mulher ser considerada "adequada" como, acredite, muita gente ainda pensa hoje em dia, assim como alguns assumem que toda mulher deve querer casar e ter filhos, e se você pensa diferente... oras, você é muito nova e ainda vai mudar de ideia (só que não). Então, resumindo, não acho que o que critiquem seja a escolha das pessoas (até porque o direito de escolha é algo maravilhoso!). Se uma mulher escolhe cuidar da casa ao invés de ter uma carreira, good for her, o problema é se isso for uma imposição, se ela for forçada pela família a largar o emprego ou algo assim (eu considero isso bizarro mas, de novo, acontece), assim como não é um problema gostar de se arrumar de determinada maneira e se comportar de acordo com etiquetas, mas sim precisar se arrumar e se comportar de tal modo mesmo contra sua vontade apenas para ser aceita e se encaixar num ideal que não te agrada nem te faz feliz. Eu sou muito feliz vivendo como eu vivo e acredito que ninguém teria qualquer objeção a isso (ou pelo menos não deveria ter), afinal foi uma escolha minha e não estou prejudicando ninguém :)

Sobre essa escola de princesas, acho ruim se for algo imposto pelos pais como pode parecer matricular as filhas numa escola para aprenderem como se arrumar e se comportar, mas também acho que se for do desejo da criança frequentar uma escola assim elas devem ser apoiadas, com o cuidado de sempre manter aberto um leque de opções onde a criança também possa observar outros modelos positivos. Isso me lembra um pouco os concursos de Pequenas Misses dos Estados Unidos (alguém já viu o programa? Passa no Discovery Home & Health). Vendo alguns episódios é possível perceber que algumas meninas realmente gostam dos concursos, do cabelo e da maquiagem, das roupas super produzidas e de fazerem suas apresentações no palco, mas outras tantas são visivelmente pressionadas pelas mães e aparecem chorando, não conseguem se mover no palco, brigam e tentam se livrar dos vestidos e coroas. Eu não acho errado uma menina querer ser princesa, mas acho errado fazer com que ela pense que é errado não ser uma.

Algumas pessoas acham meio estranho moças crescidas terem tanto apreço por princesas e até certo ponto eu entendo a preocupação, de verdade, mas acho que isso acontece porque não entendem nossas motivações. Eu diria que o conceito que leva crianças e lolitas (a maioria próxima dos 20 anos) a se auto-denominarem princesas são um tanto diferentes. Ainda há a preocupação com o modo de agir, mas mais do que ter etiqueta, ser uma princesa pra mim é ser uma boa pessoa, e tratar as pessoas com gentileza. Acho que isso é perceptível em The Princess Code e 5 maneiras de se sentir como uma princesa todo dia. Há o ideal de beleza, mas, ao invés de um único padrão, acredito que as princesas próximas dos 20 anos já tem consciência de que beleza não é um biotipo específico, existe beleza em negras, brancas, asiáticas, magras, gordas, baixas e altas. O artigo Em defesa das princesas resume bem o que significa "ser uma princesa" para mim. Um dos meus trechos favoritos desse artigo é o seguinte: "A palavra princesa se tornou sinônimo de heroína. E é isso que eu acredito que lolita faz pelas garotas: elas descobrem, ou talvez decidem, que elas serão as heroínas de suas próprias histórias."



fuck yeah subversive kawaii

Não tem nada de errado em aspirar por uma vida melhor, não tem nada de errado em gostar de rosa, coroas e unicórnios e se imaginar de vez em quando num lugar diferente, mais mágico e mais agradável, mas por mais que eu considere saudável um pouco de escapismo, também acho que fugir constantemente da realidade não pode ser uma coisa boa. Por mais difícil que seja temos que nos conformar a acordar cedo, trabalhar, estudar, usar transporte público e pagar as contas, mas eu não acredito sinceramente que o fato de gostar de princesas impeça qualquer uma dessas coisas de serem feitas. Ninguém está esperando um príncipe chegue numa carruagem para não termos que pegar o metrô nem nada disso. Da mesma forma, não vejo nada de errado em uma garota que não gosta de rosa, maquiagem e salto alto, ou que prefere robôs a princesas. Nós só queremos um mundo com um pouquinho mais de cor, não só rosa, mas verde, roxo, vermelho, laranja, azul, amarelo, porque nem tudo no mundo precisa ser preto ou branco.


Peço desculpas se me empolguei demais ou fugi do assunto, mas espero ter respondido de forma satisfatória. Gostaria muito de ouvir suas opiniões sobre o assunto, então por favor me contem nos comentários :)

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