Hoje em dia, a crítica moderna usa o adjetivo "adulto" como marca de aprovação. Ela é hostil ao que denomina "nostalgia" e tem absoluto desprezo pelo que chama de "Peter Panteísmo". Por isso, em nossa época, se um homem de cinquenta e três anos admite ainda adorar anões, gigantes, bruxas e animais falantes, é menos provável que ele seja louvado por sua perpétua juventude do que seja ridicularizado e lamentado por seu retardamento mental.
(...) Os críticos para quem a palavra adulto é um termo de aplauso, e não um simples adjetivo descritivo, não são e nem podem ser adultos. Preocupar-se em ser adulto ou não, admirar o adulto por ser adulto, corar de vergonha diante da insinuação de que se é infantil: esses são sinais característicos da infância e da adolescência. E, na infância e na adolescência, quando moderados, são sintomas saudáveis. É natural que as coisas novas queiram crescer. Porém, quando se mantém na meia-idade ou mesmo na juventude, essa preocupação em "ser adulto" é um sinal inequívoco de retardamento mental. Quando tinha dez anos, eu lia contos de fadas escondido e ficava envergonhado quando me pilhavam. Hoje em dia, com cinquenta anos, leio-os abertamente. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino, inclusive o medo de ser infantil e o desejo de ser muito adulto.
A visão moderna, a meu ver, envolve uma falsa concepção de crescimento. Somos acusados de retardamento porque não perdemos um gosto que tínhamos na infância. Mas, na verdade, o retardamento consiste não recusar-se a perder as coisas antigas, mas sim em não aceitar coisas novas. Hoje gosto de vinho branco alemão, coisa de que tenho certeza de que não gostaria quando criança; mas não deixei de gostar de limonada. Chamo esse processo de crescimento ou desenvolvimento, porque ele me enriqueceu: se antes eu tinha um único prazer, agora tenho dois. Porém, se eu tivesse de perder o gosto por limonada para adquirir o gosto pelo vinho, isso não seria crescimento, mas simples mudança. Hoje em dia, já não gosto somente de contos de fadas, mas também de Tolstoi, Jane Austen e Trollope, e chamo isso de crescimento; se tivesse precisado deixar de lado os contos de fadas para apreciar os romancistas, não diria que cresci, mas que mudei. Uma árvore cresce porque ganha novos anéis; já um trem não cresce quando deixa para trás uma estação e ruma para a seguinte, esbaforido. Na realidade, meu argumento de defesa é ainda mais forte e mais complexo. Hoje em dia, para mim, meu crescimento aparece tanto na leitura de romancistas quanto na dos contos de fadas, pois a verdade é que agora aprecio melhor os contos de fadas do que apreciava na infância: como agora sou capaz de inventir mais, também acabo extraindo mais. Mas não é esse o ponto que desejo enfatizar. Mesmo que o gosto por literatura adulta viesse meramente acrescentar-se ao gosto inalterado pela literatura infantil, o acréscimo, mesmo assim, mereceria o nome de "crescimento", o que não aconteceria se o processo consistisse em simplesmente deixar um fardo de lado e pôr outro em seus ombros. É verdade que o processo de crescimento, por acaso e por infelicidade, acarreta outras perdas. Porém, não é a essência do crescimento, e certamente não é o que faz do crescimento algo louvável ou desejável. Se assim fosse, trocar de fardos ou deixar estações para trás fossem a essência e a virtude do crescimento, por que parar na idade adulta? Por que não dar também um sentido positivo à palavra senil? Por que não congratular as pessoas por perderem os dentes e o cabelo? Certos críticos parecem confundir o crescimento com o preço do crescimento, e também gostariam de tornar esse preço muito mais alto do que ele naturalmente deve ser.
- C. S. Lewis
Esse texto foi retirado de "Três maneiras de escrever para crianças", do volume único de As Crônicas de Nárnia. Embora o texto fale sobre literatura e contos de fada achei impossível não relacionar com outras coisas corriqueiras da minha vida, entre elas, evidentemente, lolita.
Quantas de vocês já não ouviram uma ou mais das seguintes perguntas: "Você já não passou da idade de se vestir assim?", "Por que você não usa roupas mais adultas?", "Você está usando rosa de novo?". Isso sem contar os olhares tortos de gente que não te conhece, nunca te viu na vida, e te julga como "criançona" por usar laços na cabeça ou carregar uma bolsa de pelúcia.
Agora imagine se você além de usar lolita ainda coleciona bonecas (sejam elas Barbies, pullips ou BJDs), gosta de usar produtos feitos para crianças (desde shampoo de criança até eventuais compras nas seções infantis) e ainda adora My Little Pony e Ursinhos Carinhosos! Não precisa ser um gênio pra saber que muita gente vai achar que você realmente tem uma síndrome de Peter Pan. Sinceramente, eu acho que existe uma infinidade de coisas piores do que querer ser criança para sempre, mas não é essa a questão. A questão é que nós, lolitas (ou até mesmo meninas que não são lolitas, mas que tem atração especial por coisas nostálgicas), somos frequentemente incompreendidas por pessoas que acham que um aspecto da nossa vida domina toda ela.
Claro, lolita é uma parte importante da nossa vida e é claro que gostamos de coisas que de alguma forma estejam relacionadas a lolita, mas não são nossos únicos interesses, nem a única coisa com a qual nos preocupamos. Nós, lolitas, mantemos (ou resgatamos, depois de um período afastadas) muitas coisas que nos eram queridas na infância e também adquirimos gostos por coisas novas e diferentes que dificilmente seriam relacionadas com lolita. Nós estudamos, trabalhamos, temos famílias, amigos e namorados, alguns dos quais não entendem ou aprovam nossas escolhas e, com certeza, isso é muito mais difícil do que ignorar os comentários grosseiros na rua.
Mas não importa que achem que somos crianças por nos vestirmos assim ou gostarmos do que gostamos. A maioria de nós, que alguns acham que já passou da idade de se vestir assim, também já passou da fase de se preocupar com "parecer adulta" e buscar aprovação alheia pelo o que fazemos ou vestimos. Adolescentes mimados que acabaram de completar 14 anos podem se preocupar com passar uma determinada imagem, se irritar por falarem que eles parecem crianças e tentar provar que são alguma coisa, nós não precisamos disso.
Não vejo nada de errado em manter aquelas coisas que foram importantes para você na infância e permitir que continuem sendo parte da sua vida, mas realmente acho digno de preocupação abandonar as coisas que contribuíram para que você se tornasse o que você é simplesmente para criar uma nova versão de si mesma que não há garantia nenhuma de que será melhor do que a anterior. Ou ainda se envergonhar de admitir que gosta de alguma coisa por ser "coisa de criança".
Francamente não entendo que bem pode te trazer fingir ser algo que você não é ou agir de acordo com o que as pessoas esperam apenas para satisfazer os outros ou ser aceito (a menos que na realidade você seja uma pessoa horrível, estúpida e sem consideração por ninguém. Nesse caso, por favor, finja ser uma pessoa melhor, ou se torne uma de fato). É claro que eu não sou alienada e tenho consciência de que roupas realmente fazem muita diferença para causar uma boa impressão numa entrevista de emprego e coisas assim, mas não é como se alguém fosse para uma entrevista usando peruca rosa e print de unicórnio, né? E não é só sobre roupas que estou falando, como espero que tenham percebido '-'
Eu sei que é um tanto batido, mas é verdade: As pessoas vão te julgar não importa o que você faça. Sendo assim, não parece melhor que te julguem por ser uma pessoa que, na pior das hipóteses, está satisfeita consigo mesma ao invés de uma pessoa frustrada que, não importa o que faça, não consegue a aprovação que tanto deseja?
Me desviei um tanto do assunto inicial, mas é inevitável quando começo a pensar sobre essas coisas. O fato é que eu comecei a divagar, lendo o texto do Clive, sobre o quanto as pessoas acham que sabem sobre nós por uma ou outra coisa que deixamos aparente, e como as pessoas ainda hoje (o texto foi escrito há mais de 50 anos atrás) supervalorizam a vida adulta, coisa que pode ser notado pelo encurtamento da infância: crianças largando os brinquedos cada vez mais cedo e usando maquiagem, gravidez precoce, abuso de álcool... todas essas coisas que hoje em dia, infelizmente, acontecem cada vez mais cedo e são vistas com a maior naturalidade, enquanto gostar de bonecas (ou de se parecer com uma) é uma coisa anormal e doentia.
Essas são só algumas coisas que eu penso quando vejo alguém dando a entender que devemos evitar coisas de criança e ter como objetivo de vida "ser adulto". Crescer para mim tem a ver com assumir responsabilidades, ter coragem de enfrentar os problemas e assumir seus erros, e nada tem a ver com trocar o rosa pelo cinza, parar de assistir filmes Disney para só ver noticiários e abandonar os contos de fada para ler jornal. Também acredito que gostar de "coisas de criança" não é se recusar a se tornar adulto, mas reconhecer que crescer não é abrir mão das coisas que te fazem feliz e deixar que elas continuem sendo parte de você.
Ah! Talvez algumas pessoas tenham estranhado a imagem que usei no começo, mas eu achei a evolução do Slowpoke para Slowbro muito apropriada para ilustrar esse post. Slowpoke e Shelder se unem para evoluir, acrescentando algo um ao outro, não simplesmente mudando. Além disso, Pokémon é uma dessas coisas que eu gostava quando era criança e continuo gostando até hoje :)